quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Desilu-roque

Quando você está no começo da sua adolescência, pode acontecer de você se apaixonar profundamente (caso calhe de alguém te mostrar) pelo tal do panque roque.
Nesse momento, você fica eufórico, e ocorre uma “revolução” dentro da sua cabeça: eu estou certo e todo mundo que não ouve panque roque está errado. “Anarquia é legal. Nazistas merecem apanhar. Vou trocar Nike por DC, começar a andar de skate e usar moicano.”

Isso é só a parte externa. Dentro de você, pouco a pouco vai crescendo em progressão geométrica uma chama. “Panque roque! É! Ninguém vai ficar no meu caminho! Vamos mudar o mundo e ninguém vai nos parar nem nos dizer o que fazer! É!” Se você tiver uma banda então, essa sensação (provavelmente) se intensifica.
Chega um momento em que suas certezas nunca foram tão certas na sua vida, e isso pode acontecer antes mesmo de você ser grande o suficiente para ir no seu primeiro show “underground”da sua vida.

Você começa então a frequentar a “cena”(ao mesmo tempo ou um pouco antes de você tocar pela primeira vez na mesma com a sua banda). Conhece pessoas novas, bandas novas, pessoas mais velhas do que você, que te mostram coisas nas quais você nunca pensou ou talvez nem mesmo sabia que existia.
Nesse ponto, começa uma nova etapa: você começa a passar de 3 ou 4 vezes mais tempo pensando, repensando e refletindo coisas antigas e muitas coisas que te são novas, e se fizermos um gráfico “certeza x tempo” teremos o início de uma queda de aceleração constante do fator “certeza”.

Suas certezas desmoronam e você percebe que muitas coisas, senão quase tudo no qual você acreditava, não eram bem assim. Nesse momento, os estigmas implantados em você pelas músicas que você ouve são quebrados (pode acontecer até de você passar a achar sem graça a sua banda anteriormente favorita), e você se acalma e começa a lentamente reconstruir seus valores, mas dessa vez com base em pesquisas, seu próprio raciocínio e nos debates dos quais você toma parte ou assiste.
Algum tempo depois, você chega sozinho numa conclusão, conclusão essa que (não) coincidentemente é a mesma que alguém a muito tempo atrás chegou: a única certeza que eu tenho é que eu não tem certeza de nada.

Passa-se mais tempo e você se pergunta qual é o sentido real de tudo isso. Outrora tão convicto, o fator certeza agora está abaixo de zero, e você passa a duvidar das coisas.
União? Legal, união. Será que somos realmente tão unidos assim, ou é só uma bandeira?
Será que não ficamos tão eufóricos e, me atrevo a dizer dos “panques” o que eles mesmo adoram falar dos outros, não estaremos nós tão “cerebralmente lavados” do mesmo jeito que a tal da música pop e a tal da mídia faz com aquelas pessoas que nós chamamos de fúteis/alienadas?

Panque roque e derivados são realmente bonitos, são palavras lindas, e é a música que faz meu coração bater mais rápido. Mas será que fazemos tudo que nós falamos?
Ao ouvir meus ídolos cantando, sinto-me confortável, até seguro, como se existissem adultos bons nesse mundo que cuidam de nós, nos dão uma luz, nos orientam. Mas senti um choque (acho que isso chama desilusão) quando um perigoso, atrevido, quase herégico, pensamento correu pelos meus neurônios pela primeira vez: o que de concreto esses “heróis” fazem?

É indiscutível a sua influência nas gerações seguintes, e sei que existe uma pequena minoria que realmente mexer a bunda pra fazer alguma coisa, e uma boa parte que mudou alguns hábitos por qualquer razão. Respeito e não ignoro, menosprezo nem desmereço isso. Obviamente também não menosprezo o “mudar a cabeça das pessoas”, é o começo de tudo e mais importante. Mas se cada geração somente passar adiante os ideais, sem inserir no estilo de vida dessa “subcultura” o “arregaçar as mangas para fazer alguma coisa”, por mais que o melhor que possa ser feito seja pouco, qual é a grande diferença feita nesse mundo então?
E se não mudamos efetivamente nada nesse mundo, qual é o fator que nos difere das pessoas rotulados por nós mesmos de estúpidas, ignorantes, fúteis, escrotas, alienadas, etc?
Se não somos alienados e temos consciência de que muita coisa deve ser mudada, e mesmo assim não fazemos nada, por falta de tempo ou qualquer outra desculpa, isso não nos torna pior do que ”alienados”, isso não nos torna “hipócritas”?

Não escrevo essas palavras para botar o dedo na cara de ninguém, pois se fosse o caso eu seria o primeiro a ser apontado. A diferença é que agora eu tenho consciência de que preciso começar a agir já, sem simplesmente despositar minhas esperanças no futuro, mas também fazer o que está ao meu alcance agora, ainda que não seja muito.

Gostaria também de convidar você a vir comigo.

domingo, 25 de outubro de 2009

Por favor, não esperem nada de mim.
Não quantifiquem meus atos.
Não façam gráficos do meu desempenho.
Suas espectativas me prendem, sinto minha mente acorrentada.
A obrigação de atingir metas implícitas pesa na minha consciência.
Que nota eu vou tirar, quantas mulheres eu vou ter, quantas pessoas vão no meu show...
Nos momentos em que eu consigo ignorar essas etiquetas sinto uma liberdade sem tamanho, e essa angústia vaza do meu cérebro.
Claro que cedo ou tarde ela volta.
Mas nesses curtos momentos um certo pensamento ousado corre pelos meus neurônios.
Nessas horas eu me sinto como se eu fosse livre.

Como se eu fosse livre.

domingo, 4 de outubro de 2009

Somewhere In The Between

5 pra meia noite, entro no banheiro para escovar os dentes. Conforme observo a água ir pelo ralo, começo a pensar nas inúmeras lembranças que acumulei nos meus quase 17 anos de vida.
Em menos de duas décadas se passaram tantas coisas, que dá pra ter noção quão pouco isso é, comparado com o que ainda está por vir.
Penso no meu avô, no hospital.Mais de 8 décadas completas, enfim se aproxima o fim. Há (não) muito tempo atrás, era um jovem que nem eu. Uma vida depois, estamos aqui.
Será que ele se sente realizado? Fossem quais fosse seus sonhos/planos 70 anos atrás,
agora estamos aqui. Filhos. Netos. Família. Como todas, imperfeita. Como nem todas, cercada de amor.
Penos no seu rosto calmo, simpático e bondoso. Incompatível com as histórias que miha mãe contava sobre sua severidade do passado.
Lembro de alguns momentos com ele (nem tantos assim, se parar pra pensar, devido a distância física que nos separa a 10 anos): conversando com mães e professoras quando ia me buscar no jardim de infância, caminhadas no antigo condomínio em Vinhedo, jogar pão pros patos... pequenas coisas, das quais na época eu não tinha a menor noção da importância que viriam a ter dentro de mim.
Conforme fui crescendo, fui me tocando que já não devia restar muito tempo junto dele, e que seria melhor aproveitar ao máximo fosse quanto fosse o período que restasse. Só nunca imaginei que os sinais indicadores da hora final, até pouquíssimo tempo atrás tão sutis, fossem se agravar tão violentamente em tão pouco tempo, e justo na minha ausência.
Espero sem esperança que ele aguente meu retorno. Mas o texto é melhor encerrar por aqui, afinal, lágrimas não servem pra nada.